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Idosos são principal alvo do golpe do amor em casos atendidos pela Polícia Civil

Criminosos aproveitam-se da fragilidade de pessoas que estão emocionalmente vulneráveis

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Homens que se passam por soldado americano ou artista famoso e se aproximam de mulheres carentes, cuidadores que seduzem idosos e se apropriam de seus bens – estas são algumas das situações nas quais o golpe do amor é praticado. Seja de forma virtual pelas redes sociais ou presencial em relações entre idosos e seus cuidadores, os casos de vítimas que caem nesta modalidade de golpe financeiro têm se alastrado nos últimos anos. Para a delegada Ana Caruso, titular da Delegacia de Proteção ao Idoso, o golpista aproveita-se da fragilidade e do sentimento de quem deseja ter um novo amor. Embora as vítimas possam ser qualquer pessoa passando por algum tipo de dificuldade emocional ou psicológica, os idosos são mais vulneráveis, especialmente quando sofrem de solidão e buscam afeto nas redes sociais.

O chamado golpe do soldado americano inicia via contato em redes sociais ou aplicativo de relacionamento onde os estelionatários se infiltram. Eles se passam por soldado americano, mostram fotos em que estão fardados, e vão se aproximando da vítima. “Depois de algum tempo, o namorado virtual começa a pedir valores para que eles possam se encontrar presencialmente. A vítima deposita dinheiro, e o golpista sempre tem alguma desculpa para protelar o encontro”. O criminoso nunca aparece fisicamente, todo o contato é mantido apenas pela internet.

A utilização de personagens fictícios também ocorre com criminosos que se passam por artistas famosos. Eles criam perfis falsos, reproduzem conteúdo e fotos destes artistas publicados nas redes sociais, e inventam histórias convincentes para se aproximar e extorquir a vítima. “A maneira de se proteger é desconfiar de relacionamentos que se baseiam em ajuda financeira. Não que o amor não possa existir na terceira idade. Entretanto, a cautela é sempre bem-vinda”.

Estelionato amoroso

Sobre os casos que envolvem cuidadores e idosos, a delegada explica que existem duas situações distintas. “Em momentos de demência, de senilidade, quando a pessoa não tem muita noção do que está acontecendo, é comum ela acreditar que o(a) cuidador(a) é namorada(o), e assim são facilmente seduzidos e se apaixonam”. Neste processo, os cuidadores os convencem a pagar cursos que não existem, furtam talões de cheque, pegam celular e fazem transferências. “Temos bastante casos assim que resultam em contrato de união estável, a família em princípio resiste, e o idoso(a) luta contra os familiares para ficar com o(a) cuidador(a)”.

Já quando o idoso é lucido, não interditado, a atuação da Polícia é impedida. Neste contexto, quando a pessoa tem plena consciência do que faz, se ela se apaixona por alguém 40 ou 50 anos mais jovem, e realmente quer presenteá-la, não há nada que a impeça. “É um estelionato amoroso, o criminoso consegue tirar tudo do idoso, o que leva muitas vezes a dilapidar seu patrimônio. E mesmo que ele caia em si posteriormente, o estrago já foi feito”. De acordo com a delegada, é muito comum esse jogo de sedução feito por cuidadores para poder se apropriar dos bens dos idosos. E com isso, não estou dizendo que não possa se apaixonar, mas a chance é ínfima”.

Operação Dom Quixote

No ano passado (2024) a Polícia Civil do Rio Grande do Sul, com o apoio das Polícias Civis de São Paulo e do Ceará, deflagrou a Operação Dom Quixote. A ação investigou os crimes de estelionato qualificado, associação criminosa e lavagem de dinheiro envolvendo um grupo que se passava por diferentes mulheres nas redes sociais. Os criminosos utilizavam perfis falsos de mulheres estrangeiras que demonstravam interesse em se relacionar com a vítima, um idoso com 71 anos à época, além de prometerem entregar vultosas quantias em dinheiro e bens para investimentos no Brasil. Também fizeram contato com a vítima perfis falsos de profissionais de empresas de guarda de valores, auditoras fiscais e policiais, todos envolvidos no mesmo golpe. Entre 2022 e 2023, a quadrilha obteve ganhos de aproximadamente R$ 2 milhões em prejuízo do idoso.

Segundo o Delegado Anderson Pedro Riedel, titular da Delegacia de Polícia de Tupanciretã, que coordenou a operação, foram bloqueados aproximadamente 80 mil reais entre valores e bens que estavam com os investigados. Ao final do processo, em caso de condenação, serão destinados à vítima. Durante as investigações, foram identificados 13 suspeitos de envolvimento no esquema criminoso, sendo que seis deles foram presos. Ao longo das buscas, a Polícia apreendeu documentos, aparelhos eletrônicos (celulares e notebooks) e cartões bancários, além do bloquear bens e valores de contas bancárias dos criminosos.

A orientação da Polícia Civil para se proteger, nestes casos, é desconfiar, estar atento ao manter contato com desconhecidos em interações virtuais. E, se cair no golpe, buscar ajuda, registrar imediatamente a ocorrência na delegacia mais próxima ou na Delegacia on-line, e reunir todos os documentos possíveis (e-mails, mensagens, chave pix, contas de redes sociais, comprovantes de pagamento). A partir destes dados, a Polícia poderá buscar a autoria, trabalhando na investigação patrimonial para fazer bloqueios, e futuramente ressarcir as vítimas.

Polícia Civil RS