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Operação Rapta esclarece crime de homicídio qualificado com sequestro

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A Polícia Civil, através da 2ª Delegacia de Polícia de Sapucaia do Sul, nesta manhã (10) deflagrou a Operação Rapta, esclarecendo crime de homicídio qualificado com sequestro. Ordens judiciais, entre mandados de prisão e de busca e apreensão, foram cumpridas em Canoas, Porto Alegre, Viamão, Charqueadas e Osório. Cinco pessoas foram presas ao longo da investigação, sendo que duas prisões temporárias foram realizadas hoje e outras três pessoas já se encontravam presas por outras investigações.

A vítima é um jovem de 20 anos que não tinha antecedentes criminais e a motivação do crime estaria ligada a conflitos entre organizações criminosas e ciúmes. O caso, inicialmente complexo, foi elucidado através de um minucioso trabalho de inteligência e diligências policiais, revelando uma trama de ciúmes, rivalidade entre grupos criminosos e um planejamento brutal.

O fato criminoso: uma emboscada mortal

Na madrugada de 25 de fevereiro de 2025, por volta das 02h, a equipe da 2ª DP de Sapucaia do Sul foi acionada para atender a uma ocorrência de encontro de cadáver na Rua São Miguel. A vítima, não identificada no primeiro momento, apresentava sinais de extrema violência: múltiplas agressões e mais de 20 perfurações por arma de fogo calibre 9mm, indicando uma execução sumária. O local, próximo à RS 118, não dispunha de câmeras de segurança, o que inicialmente dificultou a investigação.

Ainda na mesma madrugada, as diligências iniciais revelaram uma conexão crucial: a vítima do homicídio era o mesmo jovem que havia sido sequestrado e espancado em frente na frente da sua residência em Canoas, horas antes, fato registrado na ocorrência policial. Essa ligação foi confirmada pelas tatuagens e vestimentas, que correspondiam às descrições do jovem sequestrado.

A vítima é um jovem de 20 anos, sem qualquer registro de antecedentes criminais ou envolvimento com o submundo do crime. Ele vivia com os pais e era descrito por amigos e até mesmo por membros de grupos criminosos como uma pessoa sem inimigos ou participação em atividades ilícitas.

Contudo, a investigação revelou um ponto sensível em sua vida social: ele mantinha amizades de infância com indivíduos vinculados a uma organização criminosa rival de outra que também atua em Canoas. Além disso, ele gostava de ostentar nas redes sociais, utilizando um perfil fazendo referências, mesmo que em tom de brincadeira, a dinheiro fácil e grandes quantias, com alusão do seu usuário remetendo ao tráfico de drogas. Tal comportamento, somado com suas companhias, era interpretado por alguns, especialmente por membros de grupos criminosos, como um sinal de afiliação criminosa.

Outro fator complicador na vida dele era sua liberdade em se relacionar com diversas mulheres, inclusive aquelas vinculadas a organizações criminosas, fossem elas aliadas ou rivais de seus amigos. Ele frequentava festas onde grupos rivais se encontravam, o que gerava ameaças e conflitos, e acabou sendo taxado por um grupo criminoso como membro ou apoiador de uma organização rival. Essa percepção equivocada de seu perfil social e o contexto de guerra entre as organizações criminosas foram cruciais para a tragédia.

As principais diligências investigatórias:

A equipe de investigação agiu rapidamente. Após identificar a vítima, as diligências se concentraram em buscar informações sobre o sequestro. Foram solicitados a quebra de dados telemáticos e acesso às redes sociais da vítima, medidas fundamentais para o avanço da investigação.

A análise das comunicações da vítima revelou que ele havia marcado um encontro com a namorada na sua própria casa, na madrugada do crime. Ela, que já havia se relacionado com ele em festas, foi identificada como sendo vinculada à organização criminosa que atua na região e tendo ex-namorados membros dessa mesma organização. Ficou claro, então, que ela foi a "isca" para atraí-lo para a emboscada.

A equipe analisou as imagens de câmeras de segurança, que mostraram o veículo utilizado no crime, um Fiat Argo prata, hatch, com um amassado na traseira. O carro foi localizado em um condomínio em Canoas, local conhecido como reduto de uma organização criminosa que atua na região. A placa do veículo era clonada, o que dificultaria a identificação dos criminosos, prática comum entre grupos ligados ao crime organizado.

Durante a observação do condomínio, os policiais visualizaram uma mulher, com características semelhantes, chegando em um Ford Ka vermelho, acompanhada de um homem. O Ford Ka, que inicialmente estava com um vidro quebrado e depois foi visto com ele trocado, foi estacionado ao lado do Fiat Argo. Vizinhos, sob condição de anonimato devido ao medo, informaram que ambos os veículos pertenciam a um mesmo indivíduo, mas só tinha a alcunha do mesmo, depois identificado pela investigação.

A abordagem ao Fiat Argo revelou respingos de sangue no porta-malas (local onde a vítima fora colocada) e um chinelo arrebentado no assoalho do banco traseiro, semelhante ao perdido por um dos suspeitos no vídeo do sequestro. Estilhaços de vidro no banco do carona também chamaram a atenção, relacionando-se ao vidro quebrado do Ford Ka. O Argo foi apreendido.

No dia seguinte à apreensão, uma denúncia anônima apontou o indivíduo, como envolvido no assassinato, sendo o proprietário do Argo. A denúncia também revelou que ele utilizava tornozeleira eletrônica e continuava com atividades ilícitas. A investigação qualificou o suspeito como indivíduo com dezenas de registros policiais, incluindo roubo, furto, ameaça, lesão corporal, e adulteração de sinal de veículo – crime que, de fato, se relaciona ao carro clonado. Também foi confirmado que ele era membro da organização criminosa que atua na região.

Novas imagens de monitoramento do condomínio, datadas da madrugada do homicídio, mostraram o Fiat Argo sendo estacionado no condomínio. Nas imagens, o suspeito, usando tornozeleira eletrônica, e mais dois indivíduos analisavam o veículo, principalmente a traseira e o porta-malas, utilizando lanternas e tirando fotos, indicando preocupação com possíveis avarias ou vestígios.

Esclarecimento do caso e identificação dos autores:

O avanço crucial para o esclarecimento total do caso veio com a captura de uma mulher em Cachoeirinha, em 05 de maio de 2025. Durante interrogatório, ela confirmou ser a mulher no vídeo do sequestro e afirmou ter sido obrigada a participar do crime pelo seu ex-namorado. A prisão temporária dela foi convertida em preventiva em 30 de maio de 2025.

No seu depoimento, a presa forneceu detalhes sobre outros envolvidos. Ela mencionou demais suspeitos que chegaram em outro carro. Ela também relatou que os passageiros do carro estavam em videochamada com outros indivíduos, questionando a vítima sobre rivais.

Uma nova denúncia anônima, recebida em maio, mencionou alguns dos suspeitos residindo em um apartamento no bairro Guajuviras, usado como base. Além disso, citava o envolvimento de mais um indivíduo que teria tomado a iniciativa com os demais. As investigações policiais aprofundaram a identificação dos demais envolvidos:

A motivação para o crime:

A investigação apontou duas motivações principais para o brutal homicídio da vítima: ciúmes e rivalidade. O ex-namorado da mulher foi o principal motivador por ciúmes. A relação da vítima com a namorada, uma mulher vinculada à organização criminosa e o fato da vítima circular com amigos de grupo rival geraram um forte atrito.

Além disso, havia busca por informações de rivais: a organização criminosa tinha interesse em obter informações da vítima sobre membros rivais. A vítima, por suas amizades e por frequentar ambientes onde os grupos criminosos se encontravam, era vista como uma fonte potencial de dados.

Além dessas motivações diretas, a ostentação da vítima nas redes sociais, mesmo sem real envolvimento com o crime, e sua presença em festas onde grupos criminosos rivais frequentemente entravam em conflito, contribuíram para que ele fosse percebido como um "inimigo" ou "informante" por um grupo criminoso. O crime foi um ato de extrema crueldade e premeditação, refletindo a dinâmica violenta das guerras entre grupos criminosos na região.

Polícia Civil RS